Tempus de Cercamento: A enclosure inglesa
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Crianças trabalhando em uma fábrica inglesa do século XIX. |
Recentemente, ao ouvir uma das infindáveis palestras que ouço nesta quarentena, minhas companheiras de solitária - me reparei com algo já conhecido, mas sempre pormenorizado: as "enclosures" da Revolução Industrial (1760-1840). Hercúleas em absurdo e crueldade. Errare humanun est.
Se você não sabe, ou já se esqueceu, o processo de industrialização do Velho Mundo irrompeu-se primeiramente na Inglaterra. Ao substituir a força de tração humana e animal por máquinas, a Inglaterra precisaria de mão-de-obra suficiente para gerar o excedente das fábricas. Para isso, houve o processo conhecido em português como "cercamento" (em inglês - enclosure) das terras comunais, provenientes do período feudal. Isto é: houve a expulsão dos camponeses de suas terras. Uma vez expulsos, seriam "alvos" fáceis das fábricas; não teriam outra opção senão a rendição à força de trabalho nas cidades.
A Rainha Elizabeth, rainha deste período (século XVIII) resolveu solicitar títulos (papéis) que comprovassem o proprietário do território; já que por livre e espontânea vontade os camponeses não sairiam de suas terras, onde possuíam a subsistência e dignidade, para trabalharem nas cidades. Assim a Rainha resolveu "arrancá-los à força". Uma vez esvaziadas, as terras serviriam para pastagens das ovelhas, já que uma das frentes industriais inglesas era a têxtil.
Como disse Thomas Morus: "A Inglaterra é um estranho país, onde as ovelhas devoram os homens".
Quando disse que esse fato sempre passa pormenorizado, é que tal política de cercamento gerou tremendas consequências para a camada dos camponeses: injustiças; precariedade da condição de vida; trabalho infantil; pobreza generalizada; marginalização e pouco se fala disso, ou pouco se dá de importância.
Assim como o que fizeram no Continente Africano.
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Os escravos africanos eram castigados cruelmente pelos seus senhores. Acima, retrato das costas de um escravo norte-americano do século XIX. |
Ao tratarmos da África, é sempre pormenorizando, fizeram o que fizeram, extraíram o que extraíram e hoje estão lá, à deriva, retratados às vezes em Hollywood, como vimos recentemente no filme "Diamante de Sangue".
Não obstante, as políticas contra a imigração que presenciamos maciçamente na atualidade (com os povos sírios principalmente), são pormenorizadas, principalmente por esses do Velho Mundo, causadores de todo esse karma e mal-estar.
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A morte de Alan Kurdi em 2015, encontrado morto no Mar Mediterrâneo. Alan era refugiado sírio e buscava melhores condições de vida na Europa. |
Pois bem, como já cantou Lulu Santos: "Assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade".
Infelizmente, os mais frágeis e pobres são os que mais perecem perante às políticas de cercamento, escravidão e anti-imigração, no decorrer da História.
Repensemos: A nossa dívida histórica não dá para se contabilizar de tão negativa e em débito que está.
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